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Histórias de um Professor Metido a Escritor

Quem lê e tem hábito de ir a livrarias sabe que nem sempre somos nós que encontramos os  livros, mas o contrário é bem comum e oferece boas surpresas. E foi exatamente isso que aconteceu com a obra que trago hoje, que se chama “Histórias de um professor universitário metido a escritor”, do professor Paulo Eduardo Ribeiro. 

Como alguns sabem, nas décadas de 1980/90, eu fui vocalista e letrista da banda de rock nacional “Inimigos do R.E.I”. E este ano, surgiu a possibilidade de voltarmos à estrada. Alguns sucessos da banda, como “A barata chamada Kafka” e “Adelaide” voltaram a ganhar destaque, e os seguidores nas redes sociais nos animaram a voltar. Por que não?

 E foi nesse movimento em torno da banda que fui convidado a participar de uma entrevista online no canal do YouTube chamado “Ponte Aérea” – um espaço que fala sobre música, cultura, arte, literatura e é pilotado por duas figuras simpaticíssimas, Paulo Eduardo Ribeiro e Sergio Schmid.

Conversa vai, conversa vem, fala-se sobre tudo. Arte, política, literatura, vida, movimentos culturais. Tudo e  mais um pouco. Os caras são bons de conversa e muito bem informados. Entrevista concluída, tomei conhecimento de que um deles havia escrito um livro e me interessei em ler. Dias depois, recebi em casa “Histórias de um Professor Metido a Escritor”, do Prof. Paulo Eduardo Ribeiro. Peguei e li de uma única tacada.

O livro me remeteu ao filme “Ao mestre com carinho”, de 1967, um clássico das telas que marcou uma geração. O filme, em linhas gerais, explora os desafios enfrentados pelo professor Thackeray (Sidney Poitier) para lidar com os seus alunos, numa escola em Londres. E sobre seus métodos não convencionais para ganhar o respeito e a confiança dos alunos sem perder a essência do trabalho de um professor – ir além do currículo e ensinar algumas lições que poderão transcender as paredes de uma sala de aula.

Paulo Eduardo Ribeiro, o autor que trago aqui, é professor universitário, mestre em Psicologia da Saúde e bacharel em Administração de Empresas. Com um currículo vasto, leciona na Universidade da Cidade de São Paulo.

“Histórias de um Professor Universitário Metido a Escritor” é um convite que ele faz a seus alunos para que leiam. Em cada história, há uma linha traçada com afeto e respeito que permeia toda a obra. As reflexões pontuadas pelo autor dialogam entre si. Por mais diferentes que os temas possam parecer, tudo se conecta.

O livro começa falando da trajetória do canal Ponte Aérea, um projeto que surgiu durante a pandemia. As dificuldades encontradas, um momento de quase desemprego e o desafio de montar algo inteiramente novo.

Uma das passagens do livro que me chamou a atenção foi o capítulo chamado “Sorte é um negócio que dá trabalho”, onde ele agradece por ter passado pelos momentos difíceis da vida e quando alguém do nada diz: ‘”Você teve sorte”. Sorte é algo fundamental. Como dizia Nelson Rodrigues, sem sorte você pode morrer engasgado com um palito de picolé. Mas temos que ajudar a sorte. E trago este trecho:

“De adolescente sem perspectivas, que não parava em nenhum trabalho, a professor universitário, com experiência de docente fora do país, artigos publicados em revistas do Brasil e no exterior, livros publicados e com um monte de pessoas que ajudei e que me ajudaram (essa troca é mais do que necessária) demorou um bom tempo.

Não foi um caminho fácil. Muitas decepções, choros, vontade de desistir, mas como eu disse anteriormente tudo  ao teu tempo.

E aí do nada alguém chega e diz: “Cara, você teve sorte, hein...”

Não, meu parceiro, eu trabalhei (e ainda trabalho) duro pra caramba, todos os dias, todos os minutos, então não vem agora me dizer que sabia desde o início, nem que o mundo foi benevolente comigo ou que tive sorte, porque na real, meu parceiro, sorte é um negócio que dá trabalho. Dá muito trabalho” (pág. 111)

E aqui encontramos um professor experiente e humano que deseja dividir com seus alunos e outros mais o que tem aprendido em seu caminho. Não desista de seus sonhos. Trabalhe duro, com obstinação e inteligência – que sorte dá trabalho.

Um ponto interessante é que o capítulo acima conversa com um outro chamado “Paciência”, onde Lenine, o cantor e compositor pernambucano, surge como inspiração. E, mais uma vez, temos o autor compartilhando suas experiências sem a pretensão de ter razão, mas com a sabedoria que o tempo oferece aos que percebem que viver é um ato de coragem e respeito ao tempo.

No capítulo “Fazer ou não fazer faculdade? Será que ainda vale a pena?” do livro, ele menciona as dificuldades de se fazer faculdade e no final conclui. E eu concordo:

“Não se esqueça de que com diploma está difícil, mas sem ele está praticamente impossível”   (pág. 27)

E em outro momento, ele afirma que não adianta só se formar se você não gosta de ler. Apesar de termos a disponibilidade e facilidades tecnológicas, sempre há a falta de tempo e a opção dos audiobooks. E aí vem a dica de quem gosta de ler e eu fecho com ele:

“Pra finalizar, se você, assim como eu, acha que livro é um investimento e não um custo e tem como bancar esse hábito, pois prefere a sensação de ter o livro em suas mãos, vá em frente, não importa se é um por mês, por bimestre ou trimestre, leia.” (pág. 30)

Paulo Eduardo Ribeiro tem como principal virtude levar seus alunos a pensar fora da caixinha, ou seja, a refletir. Refletir exige o contraditório. É necessário não temer as dúvidas e permitir que o teatro das ideias faça seu percurso natural, conduzindo a elaboração de novos pensamentos ou o retorno de alguns. Mas sem abrir mão da reflexão honesta e tão necessária.

A leitura e a escrita são apontadas, através de suas histórias e vivências, como uma forma de organizar o pensamento. Não se trata de ler o que o professor indica, mas de seguir seus instintos. Foi assim que ele tomou a iniciativa de escrever esse livro. Escrever primeiramente para si, em busca de autoconhecimento,  e depois para transmitir o conhecimento obtido de forma consciente. Quando o aluno tem o hábito de escrever e  ler, isso  o ajuda a buscar uma resposta que muitas vezes está diante dele.

Indico esse livro não somente para a tribo das salas de aula. Mas um livro para qualquer um que busque conhecimento ou uma forma de obtê-lo. Um livro que flui através da escrita direta e informal do autor, deixando claro o seu pensamento sem ser simplista. Escrever não apenas para ficar registrado, mas para ajudar a pensar. Um professor que se importa com seus alunos. Fica a dica dessa obra para curiosos, alunos e professores. Para todos que acreditam que há lições a serem aprendidas e refletidas por toda a vida.


Data: 03 julho 2025 (Atualizado: 03 de julho de 2025) | Tags: Crônica


< A Metamorfose
Histórias de um Professor Metido a Escritor
autor: Paulo Eduardo Ribeiro
editora: Biblioteca 24 horas
gênero: Crônica;

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