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Todo Terrorista é um Sentimental

Começo essa resenha fazendo uma pergunta aos leitores: quem nunca desejou ver um corrupto morto? Se você nunca pensou nessa possibilidade, deixe que o escritor Márcio Menezes realize o seu sonho através dos personagens de seu livro “Todo Terrorista é um Sentimental”.

A corrupção no Brasil sempre esteve ligada à sua impunidade endêmica. E cabe fazer outra observação: todo caso de corrupção no Brasil é atropelado por outro caso de corrupção ainda pior e por ai vai, vamos esquecendo o primeiro, substituindo  pelo próximo que aparece e, com as “brechas da lei” somadas a bons advogados, tudo isso faz desse país um maná para que os corruptos realizem os seus esquemas.

O livro de estreia de Márcio Menezes “Todo Terrorista é Sentimental” se passa em um tempo determinado: os anos 90. Cansados de ver e ler nos jornais a corrupção vampirizando o Brasil e causar tantas desgraças, sem que ninguém consiga demonstrar nenhuma indignação, dois jovens, Cito e Gonzalez, recém saídos da universidade, ambos loucos, irresponsáveis, beberrões, semi drogados e que regados a muito sexo,resolvem por contra própria barbarizar os corruptos. E um deles afirma: “aquele que nunca misturou álcool e anfetaminas que atire a primeira pedra de cocaína”. Portanto, não leve esses terroristas tão a sério como eles mesmos se levam ao matar alguns corruptos usando a mesma metodologia de um terrorista do E.T.A, inserido no livro como amigo de um dos personagens.

Nesse livro podemos encontrar vários links que referendam as teses postadas pelos personagens em questão, dentre eles Breton, o grande mentor surrealista. Márcio Menezes através de seus personagens segue Breton em seu segundo manifesto.

Eu pergunto: E o que há de mal nisso nos dias de hoje? Absolutamente nada.O terror Pop da história faz o narrador dizer: “A orgia vence o medo”.

Não concordar com as teses expostas no livro é um direito inalienável de cada um. Mas devemos lembrar que o excelente filme “Tropa de Elite”, dirigido por José Padilha, a tortura contra traficantes é celebrada como um ritual de êxtase pelos cinéfilos com o  refrão: “missão dada é missão cumprida”. E práticas, nada convencionais, arrancam aplausos ensandecidos da platéia. Portanto, sem críticas moralistas ao livro. Em “Todo terrorista é um Sentimental” o refrão do “Comando Terrorista Anti Corrupção” é outro: “corrupto bom é corrupto morto.”

Através de Cito, um dos protagonistas, somos conduzidos a percorrer o underground carioca da zona Sul passando levemente pela Tijuca, Cinelândia, mas sempre pela zona sul e pelos bares de Botafogo, na Rua Farani, Baixo Gávea e sob uma trilha sonora que varia de Sonic Youth, Legião Urbana, Gang 90, Leonard Cohen, John Coltraine, Sonny Rollins, Bessy Smith e outras nem tão conhecidas assim, como a talentosa Tatiana Dauster e muitos e muitos outros. O livro é um vídeo clip, onde todas as cenas vem pautadas por uma referência musical ao fundo.

“Todo Terrorista é um sentimental” me fez lembrar o filme “Rede de Intrigas”, de Sidney Lumet, em que o personagem Howard Beale (Peter Finch) anuncia durante uma transmissão ao vivo que irá cometer um suicídio, no ar, dentro de poucos dias. E convoca a todos a dizerem em suas casas: “Eu estou louco e não vou aturar essa merda nunca mais”.

Marcio Menezes, após os atentados cometidos por seus personagens com sucessos e uma tragédia, alcança o seu objetivo imaginário construindo uma rede de Comandos Terroristas Anti-Corrupção pelo país e convoca a todos a gritarem de seus apartamentos, após a leitura: “Corrupto bom é Corrupto Morto”. Mas sabemos de nossos limites, e que fique claro – tudo muito bom – na ficção. E ficamos por aí.

“Todo Terrorista é Sentimental” vale a pena ser lido. É rápido, tem um humor ácido e seus personagens são factíveis. O seu terror é dionisiacamente Pop e Márcio Menezes faz sua estreia orgiástica contra a corrupção.

Um livro que tranquilamente pode ser um filme - e dos bons.


Data: 08 agosto 2016 (Atualizado: 08 de agosto de 2016) | Tags: Sátira


< Um defeito de cor O Tigre Branco >
Todo Terrorista é um Sentimental
autor: Márcio Menezes
editora: Record
gênero: Sátira;

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