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A indenização

Eu seria extremamente injusto em afirmar que o livro “A indenização” do escritor Duane Swierczynski seja um livro, digamos... bom. O livro não é bom; o livro é simplesmente ótimo. Principalmente para aqueles que gostam de Tarantino e da levada de Frank Miller, diretor de “Sin City”. Nosso autor de nome complicado vem da escola dos quadrinhos da “Marvel Comics”, e é considerado um dos mais importantes nesta área. Já foi editor, e flerta hoje com a literatura de suspense. Outros livros do autor já foram escritos e editados pela Rocco. Um deles de terror e suspense, chamado “A Loura” que eu “ainda” não li. Mas que deverá ser lido rapidamente, devido à dependência química de adrenalina e esteroides literários, que adquiri lendo “Indenização”. O livro tem a narrativa de um filme noir, mas passa muito longe do trivial. O livro é cheio de ações ininterruptas e muito caos.
O noir tem sua origem no cinema das incertezas, em meados do século XX. Hoje a incerteza está de volta emocionando-nos com sua visão sombria. Swierczynski é um gênio desse gênero mistério.

“Indenização” começa com sete empregados sendo chamados para uma reunião em uma manhã de sábado. A empresa está localizada no 36° andar de um arranha-céu. Tudo bonito, tudo lindo, uma reunião protocolar só para encher o saco dos funcionários de ponta de uma empresa de origem duvidosa. Todos aparecem reagindo da mesma forma caso você, leitor, fosse chamado para uma reunião como essa.

Todos estão na sala de conferência, cheia de biscoitos, sucos de laranja e quatro garrafas de champanhe. Em seguida, David, o chefe, dá o seguinte aviso. Ninguém poderá sair, uma vez que os elevadores foram conectados para ignorar o chão, e nas saídas de incêndio foram colocados gás sarin. Você acha pouco? Ainda não viram nada. As seguintes cartas foram colocadas à mesa, e cada um deverá escolher as seguintes alternativas. O primeiro (a) que beber o champanhe ou o suco de laranja que estão envenenados, serão mortos rapidamente. E a segunda alternativa, um tiro na cabeça.
A pergunta que faço a todos os leitores é: qual das alternativas acima parece mais razoável?

O autor de nome esquisito em que as consoantes prevalecem sobre as vogais nos impulsiona para um pesadelo noir onde nada parece aquilo que é. Todos estão preso em um inferno. Todos são espiões, apenas um não faz parte desse covil. Quer saber quem é ou não é espião? Não saberão. Essa você podem até falar mal, ou até me ameaçar, (rs) mas o silêncio prevalecerá. Não é tortura. É apenas respeito a você, leitor.

A empresa em questão é de espionagem cujo trabalho consiste em perseguir contas bancárias de terroristas. Tudo é super secreto. Mas darei aqui uma dica a todos vocês que acompanham o blog. A totalidade do 36° andar tem câmeras em todo lugar. E dois homens de origem escocesa estão monitorando tudo a 3.500 quilômetros de distância em Edimburgo, na Escócia. Quem são eles?

O personagem mais arrebatador criado por Swierczynski no livro “Indenização” é Moolly, não resistindo a um trocadilho, ela não é mole. É dura na queda. Colocaria qualquer herói de descendência “Marvel” para correr. Pensem em Charlize Theron, imaginem sendo um milhão de vezes mais cruel e violenta que “Monster, desejo assassino” que lhe rendeu o Oscar. Isso é Molly. Mas atrás de toda essa violência existe algo que nunca perde o controle. Nem ela desiste, um inferno de mulher. Em meio às ações de guerra e lutas ela se sente capaz de corrigir o seu cabelo. A dor pouco importa. Mas um rosto machucado causaria uma péssima impressão aos empregadores. Você leitor não deveria torcer por ela, mas acontece que o mal domina, e o resultado de toda essa divisão no espírito é o prazer culpado em ver Molly em ação.

O livro não é dirigido a pessoas de sensibilidade exacerbada, não foi feito para sensíveis. Pessoas dependuradas de cabeça para baixo de 36 andares de história. Explosões de gás sarin no rosto. Baleadas na cabeça ou cortes profundos por lâminas afiadíssimas. Sangue em todos os pisos. Se você é daqueles que é chegado a um livro de ação, você vai adorar esse livro. Violento e rápido, vertiginoso e sangrento, selvagem, uma leitura divertida que mantém você colado a cada página. Um passeio cheio de reviravoltas, traições, fugas ousadas, e momentos frenéticos, quando personagens eram dados como mortos ressurgem e entram no jogo de novo.

Você não tem ideia de como tudo vai acabar. Se você está pensando em algo clichê, recomenda-se rever seus conceitos. Mas, a cada capítulo há uma contagem de corpos. “Indenização” tem todos os cacoetes de Tarantino, mas tem a marca indelével de Duane Swierczynski. Nesse mundo pesadelo, as pessoas lutam para não morrer, muito embora ninguém saiba o porquê e para quem estão morrendo. Mas não há inocentes e ninguém pede ajuda aos céus. É cada um contra todos. Pegue esse livro e devore. Pois ele merece um lugar em sua estante.


Data: 08 agosto 2016 (Atualizado: 08 de agosto de 2016) | Tags: Suspense


< Os enamoramentos Asco >
A indenização
autor: Duane Swierczynski
editora: Rocco
tradutor: Antonio E. De Moura Filho
gênero: Suspense;

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